Ano XIII - 2023

Dor miofascial

Todos já sentiram, em algum momento de maior tensão ou preocupação, seus músculos do pescoço e ombros ficarem duros e doloridos. Muitas vezes, podem até ser notados caroços no interior da musculatura. Geralmente após a passagem do período de maior stress, estes músculos relaxam.

Porém, algumas vezes estes caroços permanecem nos músculos por um tempo maior, levando a uma dor crônica localizada, com diminuição do movimento daquele músculo. Denomina-se este tipo de problema de dor miofascial, e estes nódulos nos músculos são chamados de pontos-gatilho.

Quando se pensa em dores musculares localizadas, geralmente não se considera que as mesmas podem ser intensas e prolongadas – a pergunta que se ouve é: como isso pode ser somente uma dor muscular? Mas na verdade, a dor miofascial pode ser até incapacitante em alguns casos.

Tudo começa com alguma agressão ao músculo, como um trauma, torção ou outro movimento brusco. O músculo reage com um ponto de contração intensa e localizada – o “ponto-gatilho”. Esta região começa a ficar muito dolorida e um círculo vicioso é formado – a dor leva à contração muscular, que leva à maior dor, e assim por diante. Uma outra característica da dor miofascial é que dependendo de cada músculo envolvido, existe uma irradiação da dor para outros locais do mesmo músculo; isso pode simular outros problemas de saúde, muitas vezes os mais comuns.

Por exemplo, um ponto-gatilho situado no músculo trapézio, que está na parte de trás do pescoço, produz uma dor irradiada para a cabeça, olhos e testa – o que pode ser confundido com uma enxaqueca. Um outro ponto, agora no músculo piriforme, que é parte da nádega, irradia sua dor para a coxa e perna podendo simular uma ciática, e assim por diante.

O diagnóstico da dor miofascial é clínico, com a palpação dos pontos gatilho dos músculos envolvidos. Não se deve confundir estes pontos-gatilho com os pontos dolorosos da fibromialgia, que não apresentam dor irradiada e não formam nódulos.

O tratamento da dor miofascial consiste em alongamentos, atividade aeróbica e massagens locais. Relaxantes musculares podem ser usados. Uma técnica comumente utilizada é o agulhamento dos pontos gatilho com lidocaína, que induz ao relaxamento dos mesmos.

O tratamento deve ser instituído rapidamente, pois a cronicidade dos pontos-gatilho é uma das principais causas que levam a um processo de sensibilizar o sistema nervoso central e dores mais difusas, como a Fibromialgia.

Eduardo S. Paiva
Reumatologista
Chefe do Ambulatório de Fibromialgia do HC-UFPR, Curitiba.


Nenhum comentário:

Postar um comentário